
Animal Poético: fragmentos
“Animal Poético” é um diário est(ético), um reencontro do autor com a poesia, um casamento entre ética e estética em busca da emancipação poética do autor. O livro reúne três projetos: “Animal Poético”, “Um dedo de poesia” e Suss(urros) que, embora concebidos em separado compõem a mesma fatura autoral: um reflexão poética sobre a existencialidade humana, sobre esse caminhar por entre os labirintos da realidade. Há em “Animal Poético” um poesia visceral, apaixonada, intuitiva e pouco preocupada com a forma. As poesias seguem quase na totalidade a ordem cronológico em que foram escritas funcionam como um esboço autobiográfico do autor. É poesia existencial, ética e estética.
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I.
POÇA
a poça d'água
acumulada pela chuva
diz muito sobre a sociedade
que leva uma vida imunda.
II.
FREIRIANA
se não transforma,
a educação não liberta.
informa...
deforma...
se não é amorosa,
é apenas informação.
briosa...
penosa...
(para Paulo Freire)
III.
RUÍDOS
pensar...
eis o movimento.
pensamento...
eis o falso silêncio.
nada tem mais ruído,
mais agitação
que minha tola
pensação.
IV.
BIBLIOTERAPIA
em noites sem qualquer texto,
meu coração parece parado.
quando um livro me abandona,
sinto-me desencantado.
o livro me favorece
quando ele oferece um contexto.
leitura, para mim, é cuidado,
é terapia, é prece.
V.
PRACINHA
enquanto balançam,
os pequenos meninos ensaiam
seus voos imaginários.
sentem a brisa
no vai e vem do embalo.
sincronia precisa!
(dois haicais no parquinho)
VI.
ALVISSAREIRAS
na crista das palmeiras,
aves dançavam e cantavam.
alvissareiras!
maracanãs fogosas
embriagadas com sementes.
verão iminente!
(dois haicais nos mesmo galho)
VII.
TÉDIO
a viagem
é entediante.
a conversa
é entediante.
a rotina
é entediante.
o tédio
é a rotina
da conversa,
da viagem.
da incapacidade
de criar oportunidade.
VIII.
NÃO É SIM!
não é não!
se mesmo assim
você insistir
é violência,
não importa
a ocasião!
não é sim,
é não!
IX.
ATRAÇÃO
nada me atrais mais
que uma relação sem mas,
que um afago no coração
sem um senão,
ou que um abraço
sem embaraço.
X.
POESIA ESSA
um poema expressa
sem qualquer pressa
uma percepção expressa
pela vida sem pressa
em que o poeta tropeça
e produz sua peça
com poesia impressa.
XI.
HOMENS
não há fragilidade maior
do que homem ser frágil,
estar na pior, e ainda assim
arrogar-se melhor.
não há estupidez maior
do que homem mesmo frágil
negar a própria fragilidade
por boba masculinidade.
XII.
POEMA CURTO
prefiro rabiscar
um poema curto,
pois pensamentos
longos se perdem,
e não curto!
antes de escrever,
o poema encurto.
XIII.
VASTIDÃO QUE SOU
quando aquieto meu interior,
consigo conviver com a vastidão
do mundo exterior.
na quietude da minha mente,
quando torno sereno meu coração
é que me torno consciente
da vastidão que sou
e do quanto o mundo
se apequenou.
XIV.
ANDO CARENTE
ando carente,
precisando de gente,
mas gente de verdade,
que fale com sinceridade
sobre esse duro dilema
que é existir sem poema,
sem a magia da beleza
e a gentileza da poesia,
nesse mundo perverso,
sem verso.
XV.
IMPRESSÕES
na calçada, doente,
definha o pobre pombo.
animal indigente.
homem roto,
em seu lar de quinquilharia,
serenamente escrevia.
(dois haicais)
Ouça também o podcast Animal Poético.
