Carta a um poeta

por Victor Colonna*
Posso recusar a palavra
Mas não impedir o poema.
Às vezes nem recuso
E vem ao mundo um poema sujo
Contamidado em suas estruturas
Poema para ser esquecido
No fundo de alguma gaveta
Como louco trancado num porão.
Posso recusar a palavra
Mas o poema tem verdade intrínseca,
Vida independente.
O poema não precisa ser bom
O poema não precisa ser público
O poema não precisa do poeta
Não precisa nem ser poema para ser poema.
Às vezes, antes da tempestade
Desce um relâmpago
E a verdade se faz tão rápida
Que não é possível capturá-la.
Esse não-poema é poema também
Como é filho aquele que foi abortado.
Luto com palavras
Piso num terreno minado
Não existem mapas
O poema é quem escolhe o poeta.
...
A seguir, declamação de Victor Colonna de seu poema "Carta a um Poeta".
...
* Do livro "Cabeça, tronco e versos" (Editora da Palavra, 2009)