
Digno leitor
velho sujo,
desalinhado,
muito cansado,
atento aos livros
esparramados
na sarjeta.
às vezes, lia
cheio de fome,
cada volume
surrado
que um dia
venderia.
e sabia de cor
o nome de cada título,
de cada autor
que estava exibido
naquele chão
apinhado de livros.
não era um qualquer,
era mais um professor
que, aposentado,
foi impossibilitado
de uma vida digna
viver.
acabou na rua
tendo que escolher
entre morar ou comer.
deitando sobre a lua,
restou-lhe a dignidade
das páginas encardidas.
nas horas vagas,
naquelas que vagava,
por livrarias perambulava
buscando saciedade
de sua necessidade
literária.
lia com atenção
cada livro que podia
naquele momento
de profunda inspiração,
de honesto isolamento
da sua agonia.
triste sua história,
mas assim mesmo,
vivendo sua vida a esmo,
que bela vitória
daquele homem
sem nome.
(17.02.2020)
