
Dois poemas no banco da praça
o velho da praça
ouvindo Chico Alves, Paranauê
o velho guardava
a praça
guardava também
o tempo
que chegava
partia
que chorava
sorria.
ali, há anos
a praça e o velho
eram como amantes.
mas, o espelho
não era
mais o mesmo
era outro
menos lustroso.
o velho
era a praça
a velha praça.
a praça
era o velho
da praça.
cão de rua
ouvindo Elis Regina
um cão, faminto
cara de cão sem dono
no meio daquela
turba
daquela gente na rua
sob a lua, sem casa
desesperada
nua.
ainda assim, o cão
está ali, sôfrego
partilhando a fome
pelo afago
no seu coração
canino
de bicho leal
naufrago
ladino.
( por Giovani Miguez, em Sustenidos )

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