
José Huguenin, poemas
O raiar de uma consciência
Raia
A liberdade
Que aprisiona.
Finda o tronco,
Nasce a segregação.
É preciso lutar, sofrer,
Morrer.
E tantos morreram a gritar,
Com rosto escuro a arder em brasa face
A injustiça.
Por quê?
Já há tanto nascemos aqui e somos filhos da mãe gentil.
Já há tanto nossos braços somam-se a força do gigante
No lavoro,
Na luta,
Na guerra,
Na glória,
Na arte,
Na dor,
No amor,
E o sangue nosso se mistura ao barro com que
Se constrói os castelos,
E nossos filhos são os filhos e guerreiros de Atenas,
E o sangue do Brasil sempre foi vermelho apenas.
Mas derrama-se mais sangue de certos vasos,
Comove-se menos com certas desgraças,
Silenciam mais sobre certos crimes, que, por vezes,
Julgam até não ser crime!
Vergonha!
Mas depois de tantas noites,
Açoites,
Lutas desiguais e injustas,
Temos ao menos um dia, em uma ilha, para
Tomarmos consciência do óbvio ululante,
Que certos cegos dos castelos teimam em negar,
E rebaixam-se agindo sem humanidade.
Temos a chance de produzir uma chama que faça raiar
A consciência de que
Nascemos do mesmo barro,
Temos a mesma Yabá,
E queremos compartilhar o amor e felicidade que a vida pode Dar
A todos.
Profecia
E virá o tempo,
Em que toda uma vida
Se resumirá a um momento.
Em que toda partida
Despertará ressentimento.
Em que toda ferida
Se originará de um sofrimento,
E não se fechará mais.
E virá o dia,
Em que todo ímpeto
Será detido pela apatia.
Em que todo projeto
Sofrerá de anemia.
Em que todo teto
Se intimidará com a tirania,
E todos se resignarão.
Mas virá, sempre, a hora,
Em que o medo e a desolação
Sairão de nossas vidas porta afora,
Em que toda emoção
Verás, da pele aflora,
Em que toda escuridão
Se dissipará com a serena aurora,
E todos voltarão a sorrir.
O que nos faz temer?
O que nos faz temer?
A praga ou a sua negação?
O que corrói, silenciosamente, por dentro
O isolamento ou a aglomeração?
Os dias já longos se vão...
Precisamos de superação,
Renunciar a nós pelo bem maior,
Encontrar a nós em que está do lado.
Saber que a nós tanto foi confiado.
O que aconteceria se todos perdessem o medo?
Haveria festa na rua ou re-infecção?
O que nos faria parar de temer?
Ilustrações? Algaravias?
...ou o limite das privações do ir e vir?
É preciso resistir.
Resistiremos.
Agora está perto...
Todos hão de sorrir...
É preciso paciência e confiança
No dom que Ele nos deu:
A ciência!
Além da fé, que não costuma falhar.
...
José Huguenin, de Cantagalo-RJ, é poeta e doutor em física. Atualmente vive em Volta Redonda - RJ, onde é professor universitário e membro da Academia Volta-redondense de Letras. Autor de diversos livros de poesia; entre eles, o mais recente é Koiah (Outra Margem, 2019).

Foto: Divulgação
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[ Regras ]
Os interessados deverão enviar os poemas para giovanimiguez@gmail.com seguindo as seguintes orientações:
1. enviar, em arquivo word com até três poemas poema, um conto ou uma crônica de no máximo uma pagina cada, fonte Arial 12, paragrafo 1,5.
2. no final dos uma biografia de até 5 linhas, informando o seu perfil no Instagram.
3. anexar ao e-mail uma foto sua na horizontal.
4. deve constar no assunto do e-mail informações no seguinte formato: "Umanisté blog - Submissão de texto autoral - Nome".
5. Você poderá enviar até dois textos em cada gênero, desde que estejam cada texto em arquivos separados.
Espero seu texto!