
Meus primeiros tankas
Divido com vocês os primeiros 22 tankas.
Minhas distrações poéticas.
Boa leitura!
GATO FULEIRO
Um gato fuleiro
deitado à sombra fria
do jambeiro.
Nem percebeu o cão
que sobre ele foi furacão.
( TANKA n. 1 )
PATO DISTRAÍDO
No leito do rio,
o pato selvagem nada
e nadando é levado.
No levar do pato,
jacaré encheu o papo.
(TANKA n. 2)
RÃ FAMINTA
No pequeno lago,
uma curiosa rã canta
seu fado.
Enquanto canta, encanta
a mosca que será sua janta.
( TANKA n. 3 )
CUPIM DISCRETO
Na quina da mesa,
um elemento surpresa
corrompe a madeira.
Ninguém notou o cupim
que cumpria o seu fim.
( TANKA n. 4 )
BROTO
Do broto que rompe
a terra dura, eis a flor
em seu esplendor.
Nem o inverno gelado,
deixou-o intimidado.
( TANKA n. 5 )
GAVIÃO
Do alto da colina,
um gavião à espreita —
ave de rapina!
No verdejante prado,
ele escolhe seu prato.
( TANKA n. 6 )
LAGARTO
No sol frio,
o lagarto busca
algum alento.
Quer aconchego
da noite ao relento.
( TANKA n. 7 )
QUASE BORBOLETAS
Na folha da couve,
lagartinhas movem-se.
Ninguém as ouve.
Em alguns dias,
voarão.
( TANKA n. 8 )
GARÇA
Na copa da árvore:
garça descansando
ou pescando?
No pequeno córrego,
peixes pedirão arrego?
(TANKA n. 9)
BEZERRO
No pé do morro,
um bezerro perdido
pede socorro.
Sua mãe, coitada,
perdeu-se da boiada.
(TANKA n. 10)
ROLA BOSTA
Besouro rola bosta.
Seu árduo trabalho acontece
sob o sol que tosta.
Mesmo quem não gosta
tira foto e posta.
( TANKA N. 11 )
SERENO
No sereno
que envolve a paisagem,
verso flui da imagem.
Orvalho nas folhas,
pequenas bolhas.
(TANKA N. 12)
AMPULHETA
Na areia
que lenta escorre,
tempo que corre.
A ampulheta na estante,
fixa-me no instante.
(TANKA N. 13)
CADELA PRENHA
Na rua vazia,
pequena cadela caminha
sem rumo, sozinha.
Que ninguém a detenha,
pois tem pressa, está prenha.
(TANKA N. 14 )
BANHO DE LUA
No céu,
a luz da lua
ilumina a rua.
Na varanda, nua,
orquídea banha-se
(TANKA n. 15)
FOTO SINGELA
Com a brisa fria,
entra pela minha janela
borboleta amarela.
Com ela,
uma foto singela.
(TANKA n. 16)
OBSERVAÇÃO
Sob o olhar atento,
dois cães amigos correm
ao vento.
Seu guardião, observa e,
observando, é observado
( TANKA N. 17 )
GRASNAR
Um grasnar ávido
invade minhas manhãs
ferindo meus ouvidos.
A ave lá fora a grasnar
insiste no meu despertar.
( TANKA n. 18 )
FOLHAS SECAS
Nem folhas secas
oferecem algum alento
no frio relento.
No frio da noite,
cada folha é um açoite.
( TANKA n. 19 )
POBRE PATO
No prato,
um guisado
de pato.
Para quem é pobre
qualquer carne é nobre.
( TANKA N. 20 )
ESTRANHANDO
O barulho
causa-me tamanho
engulho.
Não tenho orgulho,
desse jeito estranho.
( TANKA N. 21 )
MUDA
No ramo de arruda,
uma pequena ave
escondida.
Sua plumagem tímida
denúncia que tudo muda.
( TANKA N. 22 )
