Minhas amargruas
( meu primeiro caderno poemas para 2021 )
Calma! O título não está errado. Este caderno não é sobre amarguras, apesar de às vezes uma ou outra escapar nos meus versos. É um caderno sobre amar e gruas, sim gruas, aquele "aparelho de erguer fardos", como o ato de amar faz.

Talvez pareça confuso, mas não é. Afinal, o poema é, de certa forma, esse mecanismo que o poeta encontra de erguer os fardos existenciais que vão se impondo poesia afora. Poesia é amar. Poema é essa expressão do amor que o poeta, o amante, faz existir.
Portanto, Amargruas é esse alçar os fardos em outros patamares, tentando dar a eles beleza mesmo quando, como uma rosa, estão cheio de espinhos ou o caminho é árido como o mais severo deserto.
Minha poesia é sempre antológica. Não organizo meus poemas, apenas vou deixando eles se escreverem e enchendo um caderno até que as páginas são preenchidas. O mote, o título, sempre nasce antes, pois cada novo caderno é batizado com a motivação que o anima quando inicio. Não foi diferente com este diário que escrevo com versos para ilustrar um universo tão íntimo e ao mesmo tempo compartilhado com desapego, como deve ser o gesto amar.
A ideia era, findado o caderno anterior, Auscultas (o nono de 2020), dar um tempo, respirar e entrar em recesso. Mas, minha poética é pulsão, sou um poeta que não sabe dizer não para a poesia que nasce, brota e flui dos rincões de mim. Não sei ser sem ela, por isso a deixo entrar, ou melhor, sigo-a mundo afora.
Curta minhas amargruas! Pois, certamente eu curtirei deixar cada verso nascer e impor-se como o poema que dividirei com você no meu instagram.
Boa leitura!
Giovani Miguez
Eis os primeiros poemas do caderno:
Bipolar
tão feliz
que duvidava da tristeza.
tão infeliz
que a alegria era incerteza.
era dia,
mas só noite sentia.
Recheio
tento não ser
poeta,
mas o escrever
sempre me acerta
em cheio.
daí, sem receio
faço da poesia
recheio.
Menino, vai
menino, vai.
saia dessa rua,
ela não é sua.
menino, vai.
olhe para o futuro,
eu sei, parece escuro.
não se distraia,
menino, saia.
Criação
a brisa mansa
balança o arbusto,
a borboleta dança.
levo um susto.
insisto. não djki9esisto.
o vento leve escreve.
eu só registro
um verso breve.
Medo
o ensejo de ser
lido
dilui o medo de ser
esquecido.
em cada verso
eu lido
com um perverso
medo escondido.
Amargura
o licor de jabuticaba
não acaba.
mas, na cerveja gelada
o céu desaba.
bebo
tentando esquecer,
mas é amarga
de doer.
Reinado
leões rugem
para mostrar poder
também agem
sol na savana arde
tinge a paisagem
Mais poemas em breve!
Sobrevivemos a 2020.
Feliz 2021!