O polvo
Ele era um polvo. Escolheu, entretanto, o silêncio, a reclusão e os dentes cerrados. Como uma ostra, foi trabalhando lenta e muito dolorosamente uma pérola que ia ganhando forma, tamanho e valor no seu interior.
É um jeito egoísta, eu sei. Mas, era um jeito tão dele que não é possível explicar como aconteceu, como esse bicho arisco, cheio de tentáculos e faminto, foi acomodando-se no fundo de um recife, cobrindo-se de escombros e acreditando que era uma ostra capaz de produzir riquezas digerindo tanta incerteza.
O fato é que o polvo, esquecido entre conchas mortas foi envelhecendo, sozinho, calado e recluso em suas escolhas e incertezas. A pérola que ele acreditava produzir não veio, pois polvo, mesmo que queira, não é ostra e se não se mostra para o outro não deixa seu legado.
A pérola do polvo não é a sua resistência ou paciência, mas sua inteligência e resiliência para sobreviver apesar da sua pouca resistência aos perigos do recife.
(por Giovani Miguez)
