Poesia intocada
( crônica poética )
O café esfriava enquanto o poema se esquivava. O poeta, ali parado, em estado de poesia, esperava cada palavra como psicografia. Nada acontecia. Talvez fosse culpa do dia nublado. Era essa ao menos a desculpa.
A poesia tem dessas coisas. Às vezes ela se esconde do poema. É esnobe. Não quer aparecer. Deixa o poema pobre. O poeta, infeliz, vai sendo tomado por uma angústia cinza como o dia.
Ele acreditava que era uma dia sem poesia, sem magia e sem fantasia. O fato é que o poeta, cego, foi incapaz de perceber naquele céu cinza a poesia que se escondia na luz prateada.
Então, ele deixa a poesia lá, intocada.
- do caderno "Poesia crônica, 2020"

2 visualizações0 comentário