
Sobre(viventes)
somos viventes,
não sobeviventes!
as cidades estão inundadas,
não pelas águas que do céu desabam,
mas pelas vítimas de tanta indiferença,
pelas mentiras que se acumulam,
por tantas almas atormentadas,
pelo grotesco descaso.
tornamo-nos sobreviventes
de uma existência abandonada,
de uma completa falta de compostura
de uma turba desorientada,
de minúscula estatura
existencial.
é preciso falar,
ou melhor, é preciso desengasgar.
chega desse mundo de sobreviventes!
precisamos de almas viventes,
existencialmente plenas,
emancipadas!
precisamos falar deles,
dos milhares de sobreviventes,
dessa gente esquecida, covardemente,
por imposição de uma estranha minoria,
capaz de impor-lhe tanta agonia,
deixar-lhes adoecida.
aprendi desde cedo
que é inevitável o medo.
Mas, nenhuma submissão
deve ser tolerada
em qualquer situação.
aprendi que esperança
se constrói pelo caminho.
mas, não devemos nos submeter
a nenhum tipo de cobrança
sobre o que devemos ser.
querem nos impor sobrevivência,
querem nos obrigar a uma vida de carência,
mas precisamos nos questionar
se queremos sobreviver
ou viver?
não podemos,
em hipótese alguma,
aceitar este afogamento,
nos conformar com uma póstuma
esperança sem ao menos
um lamento.
somos viventes,
não sobreviventes!
(11.02.2020)
