Três poemas de Dênis Rubra
Abrindo a seção "Pedágio Poético" do blog, um espaço com a finalidade de prestigiar poetas que li e gostei.
Hoje pago meu pedágio poético ao jovem poeta carioca Dênis Rubra.

Para Nikos Kazantzákis
Marquei a liberdade
no meu corpo
para deixá-la em mim
sem q'eu me deixe,
para fazê-la minha
sem q'eu me tenha,
para querê-la assim
como eu me quis,
para esquecer de mim
sem q'eu me perca.
Para saber a beleza de todas as coisas
e das fragilidades
e das levezas
do amor natural
presente em todas as coisas,
presente em todos os seres,
em todos os braços,
calos, corpos e cabeças.
Para ser vivo todos os dias
todos os dias - mesmo que morto -
vivo nos presentes,
nos amores,
nos livros
e nas marcas q'eu deixei
graças à liberdade
q'eu marquei em mim.
incompletudes
ora bolas quanto
pode ser o que não
é sendo simplesmente assim
e sendo tento plenamente
incompleto ser,
não sendo quando.
ser é não ser
e eu sou enquanto
clariceio
dilemas vis shakespearianos
em vida justa mas tão justa
que não me cabe, e me desboto
pra ficar nu a costurar
uma vida sob medida
e vestir-me todo
de incompletude.
há poema
há também poema
onde não há poeta
onde não há cidade
musa inspiração.
há poema no silêncio
na ausência de poema
na ausência da licença
poética onde não há
porquê se limitar
ou pedir espaço
para a falta do que não há.
para a falta do poema
que deixa de falar
do poema que não é poema
da cidade que não é cidade
da musa mousse de tristeza
da inspiração onde não há
poema que há de ser
fuga realidade.
há também poema onde não há
mas se não há não há
ah, caralho, confusão
poema que é poema não sabe falar
não sabe ser poema no que há
sabe ser poema no que não há
no que há de ser poema está
a fuga do há que será
ou não será?
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Dênis Rubra é poeta, autor de "É muito cedo para pensar" (Editora Rubra, 2017)