
Três poemas de Anderson Valfré
DESEMBARQUE
Tenho a mera ilusão que possuo um nome, endereço, títulos, história.
Ao que percebo, tudo isso não passa de informações banais.
E como o trem da vida, chego ao centro da linha, observo essa constante engrenagem, que em si, só quer me conduzir ao seu mero trajeto.
Nesse precioso lugar, questiono: quem sou?
A resposta, não está posta, diante de nós por completa.
A pergunta nos leva aos seus fragmentos, que vão compondo o ser desconhecido até então, que vive em mim.
Desembarco do trem, assumo os passos.
Desnudo sigo no vão, na contramão.
Porque se busco reconhecer-me,
devo ter a coragem de despir tudo que me puseram,
todos as verdades e bloqueios.
Agora, já não há medo ou ânsia.
Agora só há morada do presente, nu, puro,
sincero e inteiro que a vida apresenta.
DEPOIS DA PONTE
Não tenha aprisionamentos com suas raízes.
Doe cuidado e respeito.
Doe afetos e escuta.
Mas não se deixe levar pelo apego ou culpa.
Na rua de cima tem outras vidas.
No país ao lado outra língua, cultura.
O mundo é igual em suas prisões.
Vai sempre iludir para que se mantenha acomodado.
Desafie, mude.
Libere qualquer barreira interna.
Pois o lugar e família de onde viemos são importantes,
mas não prive sua vida nisso.
A vida é maior que sua dor, silêncio, dilemas.
A vida sempre está após o poema.
Esse instante de vida é para que lembre.
Viver é maior do que qualquer dor!
Voe, doe, permita, insista.
Porque se nascemos, foi para brilhar nossa humilde e amada luz.
SÓ-SÓ-SÓ
Confesso, já me tratei tão mal, que
acreditava ser incapaz de permanecer nessas terras.
Da culpa herdei o peso,
Do medo guardei o susto,
Na ilusão levei a verdade.
E em toda história reconheci a força e pureza dentro.
Das escolhas apresentadas
todas levavam ao mesmo endereço: a negação do que sou.
Foi preciso abandonar o mundo para vê-lo.
E no abandono tive a maior provação.
Que nada possuo,
E de nada sou dono.
Minha única responsabilidade é manter firme na verdade.
Venha o que vier!
Se conheço quem sou
Serei preciso no doar.
Serei grato no amar.
Se nasci chorando é que já estava negando tudo isso.
Portanto, morrerei sorrindo.
Para renascer cantando.
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Anderson Valfré tem formação técnica em Teatro, pela FAFI, Vitória/ES. Graduado em Licenciatura em Artes Cênicas pela UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto/MG. Atuações; teatro, cinema, professor, produtor cultural e poeta. Coordenador Nacional do projeto Transvê Poesias.

Anderson Valfré. Foto: Divulgação
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